A necessidade de investir (plantar money trees)
Deixar os euros parados a ganhar pó no banco é um total suicídio económico.
Dado o meu gosto e interesse pela área das finanças pessoais, acaba por ser natural e praticamente automático, lançar o repto de iniciar (ou retomar) uma jornada de investimento a todos aqueles que por variadíssimas razões, ainda não deram esse importante passo. (ou que já deram, mas que correu de forma negativa) Ainda que alguns respondam de forma positiva ao meu desafio, a grande maioria reage de forma incrédula e aterrorizadora à minha instigação, quase como se tivesse a sugerir que nadassem numa piscina cheia de tubarões sedentos por mais uma gota de sangue. Num país marcado por iliteracia financeira, não é difícil perceber porque é que são muitas as pessoas, que pelas mais variadíssimas razões, ainda não iniciaram o seu percurso enquanto aforradores e investidores. Quando 31% dos portugueses desconhece completamente a oitava maravilha do mundo, investir significa literalmente dar um tiro no escuro. Um tiro no escuro em que se sente que não só se corre risco de não acertar no alvo, como corremos o risco de acertar em nós próprios. O escândalo do BES e a queda vertiginosa das ações do BCP e da PT nos últimos anos continuam a sussurrar de forma pavorosa a ideia de que investir comporta uma probabilidade astronomicamente gigante de se perder dinheiro nos mercados. O medo e a apreensão de que este tipo de eventos se volte a repetir, continua a apavorar os pensamentos de quem equaciona investir (ou voltar a investir) o dinheiro que tanto custou a ganhar.
Portugal no último lugar do "ranking" de literacia financeira da Zona Euro
No topo do "ranking" estão os alemães, holandeses e finlandeses e na base estão os portugueses, cipriotas e italianos…eco.sapo.pt
A vida é curta. O tempo é o nosso ativo mais precioso. A morte é uma porta aberta. Porque é que alguém há de sacrificar uma parte do presente em prol de um futuro incerto? Porquê correr o risco de investir o nosso dinheiro em vez de gastá-lo hoje e desfrutar daquilo que a vida tem para nos dar? Reconhecendo naturalmente que existem outros aspetos mais importantes nas nossas vidas, irei procurar argumentar de seguida porque é que investir (onde poupar precede naturalmente o investir), não é algo suplementar, acessório ou complementar, mas sim uma necessidade, desmistificando também uma série de pretextos que são apresentados como justificação para não o fazer)
Uma vida sem risco é uma utopia (e o nosso dinheiro não é exceção)
“The cost of being wrong is less than the cost of doing nothing.”
Seth Godin
Ao longo da nossa evolução biológica, a maior preocupação da espécie humana foi sempre garantir a nossa sobrevivência e a nossa reprodução. É natural que nestas circunstâncias, a importância dada pelo nosso cérebro a ameaças seja muito superior à que é dada a potenciais oportunidades. Devido a este desequilíbrio irracional presente no nosso processo de decisão, ampliamos os riscos associados ao que pode correr mal face aos potenciais proveitos de tudo aquilo que pode correr bem, negligenciando pelo caminho o risco associado a mantermo-nos numa posição de inércia, acreditando na história da carochinha de que existem situações sem risco nas nossas vidas. Quando iniciamos os fantasmas do “E se acontecer isto, e se acontecer aquilo…”, acabamos por construir uma cela psicológica que nos prende e nos abstrai daquilo que verdadeiramente desejamos para nós próprios. Não há biliões suficientes no mundo que paguem o preço de cometer erros deste tipo. Tudo na vida tem risco. Alguém que emigre para outro país procura melhorar os seus níveis de vida. Existe alguma garantia de que isso se irá suceder? Um empresário terá de optar entre a opção A, B ou C. Existe alguma garantia de que essa opção será a decisão certa? Como referiu Benjamin Franklin, as únicas certezas que existem na vida são impostos e a nossa morte. Tudo o resto é uma incógnita. A vida em si é risco. O teor de veracidade presente na história do Pai Natal ou da Carochinha será com certeza bem maior do que aquele presente na ideia de que existem opções risk-free durante o nosso tempo neste planeta. Por alguma razão o risco associado a mantermo-nos na mesma posição é completamente descrebilizado pela maioria das pessoas no que diz respeito ao seu processo de decisão. Alguém que se demita correrá o risco de não arranjar o trabalho que desejava. Alguém que fique no mesmo trabalho correrá o risco de trabalhar para sempre em algo que despreza. O conforto da inércia é o maior risco de todos.
Se já levamos um comportamento de aversão ao risco em várias capítulos da nossa ténue e subtil existência, no que diz respeito ao nosso dinheiro esse comportamento acaba por ser ainda mais reforçado. Creio que a grande razão pela qual somos aversos ao risco no que diz respeito à questão do dinheiro, deve-se ao facto de que a grande maioria de nós o obtém através da troca direta pelo seu tempo. Consequentemente olhamos para o dinheiro como se ele representasse a nossa maior riqueza, o nosso tempo. Todo o tempo que despendemos para adquirir aquelas poupanças. Tempo esse que sabemos que nunca iremos ter de volta. Não deixa de ser completamente irónico que vivamos numa sociedade completamente obcecada por mais uma nota de algodão nos bolsos, desperdiçando dias e dias do nosso tempo, mas que depois assistamos a estes comportamentos que atestam a tese de que a verdadeira riqueza não é financeira, mas sim o verdadeiro tempo que passamos neste planeta. Não sei quem é que precisa deste reality check, porém lamento informar que todo o tempo que foi despendido jamais voltará, independentemente daquilo que aconteça ao dinheiro trocado por esse tempo. Ele foi gasto para sempre. É impossível recuperá-lo. Não é por ter o dinheiro debaixo do colchão que esse tempo permanece connosco.
“Life is very short and anxious for those who forget the past, neglect the present, and fear the future” — Seneca
Dinheiro é energia. Energia económica. Se o deixarmos parado numa conta bancária ou num buraco num descampado no Alentejo, (para além do nosso fundo de emergência e daquilo que necessitamos em termos de liquidez para o dia-a-dia) é como se estivéssemos a desperdiçar essa energia, atirando-a diretamente para o caixote do lixo. Energia essa que nos custou tanto a adquirir. Não faz sentido desperdiçarmos o nosso esforço. A escolha inteligente será sempre usár essa mesma energia para nosso proveito, colocando-a a trabalhar para nós. Como é que o fazemos? Investindo! Sim, invoca correr riscos. Como referi anteriormente nada na vida é ausente de risco. Se deixarmos o dinheiro parado, corremos o risco de termos menos de metade dos frutos do nosso trabalho daqui a 20 anos. Ou daqui a 10. Ou daqui a 5. Ninguém sabe. O risco “lento” de não fazer nada pode parecer uma estratégia inteligente à primeira vista face ao risco mais solidificado de investir, no entanto esses riscos vão se acumulando para um estado de total decadência. Todas as moedas fiduciárias estão condenadas a perder o seu valor, e o euro não é exceção.
Se o mundo comporta risco, o que é podemos fazer para enfrentá-lo? Geri-lo de acordo com os nossos objetivos e com as nossas particularidades. De forma generalizada, a solução passará por assumir mais risco em todas as áreas da nossa vida, mais concretamente riscos assimétricos, onde o potencial ganho seja claramente superior ao que estamos à potencial perda que estamos a assumir. Apesar destes traços gerais servirem como referência para praticamente toda a gente, é importante referir que no que diz respeito ao dinheiro, cada pessoa deverá ter uma estratégia tailor made delineada para si, completamente diferenciada. Por exemplo, alguém que tenha responsabilidades familiares não se poderá dar ao luxo de correr determinados riscos. Por esta razão, um determinado investimento poderá fazer sentido para alguém, e ser ao mesmo tempo o cúmulo da estupidez para a carteira de outra pessoa.
“There are more things … likely to frighten us than there are to crush us; we suffer more often in imagination than in reality.”
Seneca
Fear-Setting: The Most Valuable Exercise I Do Every Month - The Blog of Author Tim Ferriss
I do an exercise called "fear-setting" at least once a quarter, often once a month. It is the most powerful exercise I…tim.blog
Inflação (Subida de preços resultante da perda de poder de compra da moeda fiduciária)
Se ainda havia alguém que desconhecia a 100% o significado desta palavra, os últimos dois anos encarregaram-se de explicar da melhor forma o que ela representa. Devido às políticas monetárias expansionistas implementadas pelos bancos centrais, estritamente necessárias para que os estados continuem à deriva, o número de euros em circulação tem vindo a aumentar de forma cada mais expressiva, atirando para um penhasco o valor das moedas fiduciárias. Como consequência natural destas políticas, passamos a necessitar de mais euros para comprar os mesmos bens e serviços. Ao contrário do que é frequentemente referido, não é a produção da economia que se vai tornando cada vez mais cara, mas sim o denominador onde cotamos essa mesma produção que se vai tornando cada vez mais pequeno. A régua que utilizamos para aferir o valor dos bens e serviços vai-se encolhendo cada vez mais. Não é só através dos aumentos de preços que observamos uma redução daquilo que recebemos pelo nosso trabalho. A chamada shrinkflation e a diminuição da qualidade dos produtos e serviços são outro exemplo de práticas recorrentes para contrabalançar os efeitos nefastos do aumento da massa monetária na economia. (estas não entram nos dados oficiais de aumentos de preços do governo claro)
O dinheiro parado no banco funciona como uma casa completamente degradada, que vai perdendo o seu valor ano após ano, visto que o estado da mesma vai se deteriorando cada vez mais. Se não quisermos ver o fruto do nosso trabalho esfumar-se, teremos obrigatoriamente de trocar esse dinheiro por ativos que tenham a capacidade de preservar esse mesmo valor ao longo do tempo. Temos de investir, portanto. Com níveis de inflação por volta dos 8%, em 9 anos o poder de compra das nossas poupanças é cortado em metade de 10 em 10 anos. Metade das nossas poupanças dissipada para sempre. Se o valor da inflação for ainda mais alto, a sua capacidade destrutiva é ainda mais alavancada. Não vale a pena correr este risco.
“Inflation is as violent as a mugger, as frightening as an armed robber and as deadly as a hit man.”
Ronald Reagan
Defender o nosso tempo (Obter rendimentos que não querem o nosso tempo, diversificando o nosso risco)
Quem já deve oportunidade de ler outros artigos da minha autoria sabe que defendo que o tempo, ao contrário do dinheiro, é a nossa verdadeira riqueza. O dinheiro é apenas uma ferramenta que deveremos aprender a utilizar e otimizar, de forma a defender essa mesma riqueza. No fundo o dinheiro é o que nos permite construir a realidade onde desejamos estar, em vez de uma dimensão de onde queremos sair a sete pés. Esta é a verdadeira utilidade de um fundo de emergência, de um portefólio de ações que pague dividendos ou de uma propriedade que coloque mais umas mágicas notas de algodão nos nossos bolsos. Ter a capacidade de dizer não a uma empresa que não respeita a vida pessoal dos trabalhadores. Ter a capacidade de dizer adeus a um trabalho que já não contribui em nada para o meu crescimento. Ter a capacidade de construir uma fortaleza cujo objetivo é um e apenas um: a proteção do nosso tempo.
Não deixa de ser curioso que nas entranhas das cadeiras de Finanças por essas universidades fora, se ensine que uma empresa nunca deverá depender apenas de um cliente como única fonte de receita, mas ao mesmo tempo tenhamos uma sociedade estruturada para que praticamente todas as famílias tenham uma e apenas uma fonte de rendimento, o seu salário. Se essecliente optar por um concorrente, estará a assinar a nossa declaração de morte do seu anterior fornecedor. Se formos despedidos e vivermos de salário a salário, deixo a sugestão às mentes mais criativas imaginarem o que se sucederá. É aqui que a poupança (fundo de emergência) e investimento entram. Uma espécie de apólice de seguro contra a possibilidade de perdemos a nossa principal fonte de rendimento. Quem é investe é o verdadeiro averso ao risco. Quem não investe é o verdadeiro amante de risco. Numa altura em que os rendimentos do trabalho se encontram cada vez mais ameaçados pela revolução tecnológica que iremos atravessar nos próximos anos será cada vez mais importante e relevante deter outros rendimentos para além do nosso salário.
Capital vai ganhar cada vez mais força face ao trabalho
Não será novidade para ninguém que estamos perante uma revolução tecnológica sem precedentes. Estima-se que até 2030, sensivelmente 800 milhões de trabalhos sejam perdidos para um predador sem sentimentos chamado inteligência artificial. Vivendo num sistema económico que não está preparado para um cenário onde o capital irá absorver uma fatia cada vez maior da criação de riqueza, quem depender apenas do seu trabalho irá com toda a certeza ficar para trás. A melhor forma de gerir o risco de um dia um robot roubar-nos o trabalho, não é combatê-lo lançando o sindicato dos luddites do séc. XXI, mas sim através da detenção da riqueza produzida pelos sócios do Terminator. Como? Investindo! Ainda para mais, as atuais políticas monetárias, absolutamente necessárias para que o sistema económico como o conhecemos não colapse, continuarão a favorecer quem detém ativos face a quem depende apenas do seu trabalho, alimentando as desigualdades económicas na sociedade. Já existem discussões em torno do famoso rendimento básico universal para fazer face a esta situação. Mas será que é suficiente? E não nos podemos esquecer do problema demográfico que ameaça a sustentabilidade do sistema de pensões como o conhecemos. Será que teremos direito a reforma quando chegar a nossa altura de pendurar as botas? Não vale a pena correr riscos desnecessários.
The Impact of Artificial Intelligence - Widespread Job Losses
Artificial intelligence (AI) has become a cornerstone of recent technological innovations, it exists in the world all…www.iotforall.com
Skin in the Game (Experiência de Aprendizagem)
Parafraseando o mítico investidor Warren Buffett, o melhor investimento que podemos fazer é em nós próprios. Investir em experiências e conhecimento (ler bastante). Sair da nossa zona conforto. Aprender novas aptidões. E não há nada melhor para a nossa evolução do que ter alguma “pele no jogo”. Mesmo que não gostemos de futebol, se apostarmos num determinado desfecho da partida, iremos ficar pregados à televisão até ao final da partida. Quando temos algo a perder, o nosso cérebro acaba por ficar completamente petrificado e obcecado com o desenvolvimento dos acontecimentos, procurando obter qualquer informação que ajude num desfecho positivo e reduza a incerteza presente no nosso córtex cerebral. Agora que temos interesse financeiro no desfecho do mercado, acaba por haver uma tentação natural para acompanharmos e aprendermos o máximo possível sobre o assunto em causa. Mesmo investindo uma quantia residual como 100 euros, a quantidade de conhecimento e de experiência que se obterá, valerá muito mais do que esse montante investido, mesmo eventualmente que ele seja perdido na sua totalidade por alguma infelicidade. É como se estivéssemos a comprar um curso na melhor faculdade de todas, a faculdade da experiência!
“People have two brains, one when there is skin in the game, one when there is none.” — Nassim Taleb
Dito isto, não existem justificações para continuar a adiar o início da sua jornada de poupança e investimento. Como se diz por aí, o melhor dia para começar era ontem, o segundo melhor dia é hoje! É altura de começar a plantar as suas Money Trees!
“Money trees is the perfect place for shade and that’s just how I feel (now, now)”
Ainda não subscreveu o The Money Game? Chegou a hora!
Boas poupanças e bons investimentos!