Volatilidade? Smells like money!
A volatilidade é o melhor amigo de qualquer investidor inteligente e racional
Jared Vennett : You smell that? What is that?
Mark Baum : What?
Jared Vennett : What’s that smell?
Vinnie Daniel : Your cologne?
Jared Vennett : No.
[pause and looks to his assistant]
Jared’s Assistant (Chris) : Opportunity.
Jared Vennett : No. Money.
Porter Collins : Ooh…
Jared Vennett : I smell money.
Devido às pressões inflacionistas que observamos nas várias economias mundiais, os bancos centrais estão a ser obrigados a rever as políticas monetárias expansionistas que implementaram recentemente, com o objetivo de atenuar as consequências negativas daquela que está a ser a maior quebra económica desde a 2ª Guerra Mundial. Dada a reciprocidade cada vez mais evidente e inequívoca entre bancos centrais e mercados financeiros, não é de estranhar que este começo de 2022 esteja a ser marcado por uma forte onda de volatilidade nos últimos.
É precisamente nestes momentos que a probabilidade de tomarmos decisões de forma emocional e sentimental em vez de tomarmos essas mesmas decisões com bases racionais cresce de forma colossal, particularmente para investidores menos experientes. O medo, a apreensão e o pânico podem levar-nos a cometer erros dos quais pagaremos um preço gigantesco no futuro. Para otimizarmos as nossas ações nestes períodos de maiores volatilidade, é essencial sabermos separar os sinais do barulho (separate the noise from the signal), ou falando em bom português, separar o trigo do joio.
Volatilidade e risco são conceitos diferentes que frequentemente são confundidos. Quando falamos de volatilidade, falamos das variações dos retornos/preços de um determinativo ativo. Existe a ideia de que ativos como uma casa ou um terreno são ativos que não apresentam qualquer grau de volatilidade, visto que não negoceiam diariamente num mercado, não seguindo o processo natural de price discovery que acontece naturalmente com os ativos financeiros. Nada mais errado! As dinâmicas diárias da procura e oferta simplesmente não estão refletidas diariamente numa bolsa. Cria-se assim uma falsa sensação de segurança relativamente à volatilidade do mercado imobiliário. A volatilidade nesta classe de ativos existe, simplesmente não é expressa através de centenas de números pintados de verde e vermelho em Wall Street.
“The essence of investment management is the management of risks, not the management of returns.”
Benjamin Graham
Quando falamos de risco, falamos do grau de incerteza relativamente à possibilidade de não recuperarmos o capital investido num determinado ativo. Investir numa start-up ausente de qualquer euro de receita comporta graus de risco muito mais elevados do que investir numa empresa que já tenha o seu modelo de negócio comprovado e testado no mercado, sustentado por anos de lucros consistentes.
Ainda que risco e volatilidade apresentem correlação positiva, estes conceitos nem sempre estão de mãos dadas. A verdade é que estão muito longe de serem uma simbiose perfeita. E é precisamente nas situações em que essa simbiose se desfaz, que as melhores oportunidade de investimento se apresentam. Todos os grandes investidores advém os seus resultados positivos graças à sua capacidade de encontrar e identificar estas oportunidades de arbitragem onde o potencial risco face ao potencial retorno de um determinado investimento é minimizado indiretamente pela sua alta volatilidade.
The true investor welcomes volatility … a wildly fluctuating market means that irrationally low prices will periodically be attached to solid businesses.
Warren Buffett
Estima-se que a espécie humana (homo sapiens) terá surgido há centenas de milhares de anos atrás. Ao longo deste período, a maior preocupação da nossa espécie foi sempre garantir a nossa sobrevivência e a nossa reprodução. É natural que nestas circunstâncias, a importância dada a ameaças seja muito superior à que é dada a potenciais oportunidades.
Em 1979, Daniel Kahneman e Amos Tversky desenvolveram a Teoria da Perspetiva, teoria essa que procura explicar o comportamento humano de aversão ao risco em situações de incerteza e insegurança. No decorrer da sua investigação, chegaram à conclusão de que para determinados indivíduos, a dor provocada por uma perda de 1000 dólares só é efetivamente anulada com o prazer de ganhar o dobro desse valor, ou seja, 2000 dólares. Caso alguém perca 1000 dólares e receba esse mesmo valor de seguida, os indivíduos tendem a experienciar uma perda emocional, ainda que financeiramente estejam exatamente na mesma situação! Não é por mera coincidência que os media tendem a publicar peças negativas carregadas de medo com muito maior frequência do que peças positivas recheadas de mensagens esperançosas. O pessimismo soa a inteligência, enquanto o otimismo soa a ingenuidade. O nosso instituto primitivo de sobrevivência fala sempre mais alto.
Daniel Kahneman refere ainda na sua obra Thinking Fast and Slow:
“Organisms that treat threats as more urgent than opportunities have a better chance to survive and reproduce.”
Vivemos grande parte da nossa evolução biológica num mundo marcado por escassez e guerra. A nossa realidade atual é marcada cada vez mais por maior abundância a paz. Os nossos cérebros ainda não estão preparados para lidar com este novo mundo. Os humanos (e outros organismos) continuam a ser autênticos algoritmos que procuram maximizar a sua sobrevivência e a sua reprodução. O nosso cérebro não funciona de forma coerente e racional na presença de incerteza e perigo. Estamos programados para ter um comportamento de aversão ao risco em variadas áreas da nossa vida, desde os nossos investimentos até aos nossos trabalhos. E pagamos um preço muito caro por isso.
No caldeirão do mercado, quem interpreta uma queda de 5% no seu portefólio como se alguém pegasse fogo à sua casa, portando-se como um primata com institutos ancestrais semelhantes às de um organismo pré-histórico, estará condenado a perder dinheiro. Jim Simons é conhecido por liderar o hedge fund mais bem-sucedido da história de Wall Street, o Medallion Fund, tendo apresentado retornos brutos à volta de 66% desde 1988. O segredo? Basear o processo de decisão apenas em modelos quantitativos, descartando assim o enviesamento emocional do processo de decisão dos humanos.
Qual será então a melhor forma para tirar partido destes períodos de maior aperto emocional no mercado? Benjamin Graham, mentor do lendário investidor Warren Buffett, regozija-nos com a solução através da alegoria do Mr.Market, introduzida pela primeira vez em 1949 no seu clássico, The Intelligent Investor.
A ideia passa por imaginarmos o mercado como se tratasse de um sócio imaginário que apresenta características bipolares. Existem dias que o nosso parceiro de negócios está otimista, eufórico e entusiasmado. Consequentemente, ele apresenta a tendência para pagar valores excessivos pelos variadíssimos ativos. Nessas alturas, o que deveremos fazer enquanto investidores racionais é aproveitar a situação para vender a nossa carteira. Contrariamente, se o Mr.Market apresenta sinais de depressão, pessimismo e amuo, estará na altura de contarmos todos os nossos tostões e tirar partido da campanha de saldos que o nosso afiliado nos proporciona.
“The stock market is the only market where things go on sale and all the customers run out of the store.”
Cullen Roche
Nestas alturas de maior volatilidade não seja influenciado pelo Mr. Market. Ele existe para servi-lo, não para manipulá-lo!
Boas poupanças e bons investimentos!
Se ainda não subscreveu o The Money Game, chegou a altura!