Como tratar o risco por tu - parte 2
Como abraçar o risco nos investimentos e na vida - 895342
Incorrer apenas em riscos assimétricos
Ainda que não consiga garantir a 100% a veracidade desta história, tenho de a partilhar com vós porque ilustra na perfeição a intuição daquilo que está por detrás de um risco inteligente. Quando um fundador de uma das maiores cadeias de pizza do mundo foi questionado sobre o seu sucesso, respondeu que na altura em que criou a empresa, não fazia a ideia se iria ser bem-sucedido ou não, visto que era a sexta empresa que criava, depois de ter aberto cinco negócios que foram direitinhos à falência. A única coisa que ele sabia era que tinha de continuar a tentar, pois quando desse certo, iria ter uma galinha de ovos de ouro nas mãos. Inconscientemente, este senhor desenvolveu um sistema que lhe garantiu sucesso financeiro, mesmo perante um universo de incerteza. Como é que o fez? Garantindo que aquilo que colocava em risco era manifestamente inferior ao que podia ganhar. Assimetria positiva é a nossa melhor amiga para lidar com um mundo incerto e imprevisível.
“Jones is willing to risk $1 million when his research shows he’s likely to make $5 million. Of course, he could be wrong. But if he uses the same 5:1 formula on his next investment, and he’s successful, he will have made $5 million, minus the first investment loss of $1 million, for a net investment gain of $4 million. Using this formula of constantly investing where he has the opportunity for asymmetric rewards for the risk he’s taking, Paul could be wrong four out of five times and break even. If he loses $1 million four times in a row trying to make $5 million, he’ll have lost a total of $4 million. But when the fifth decision is a success, with a single home run he’s earned back his total $5 million investment.”
Como podemos observar por este excerto retirado de um dos livros de Tony Robbins, focado na gestão de risco de Paul Tudor Jones, um dos traders mais bem sucedidos de todos tempos, quanto maior for o nosso ganho num determinado investimento, mais nos podemos dar ao luxo de perder dinheiro noutras aventuras financeiras, e mesmo assim sair por cima. Só com potencial assimétrico de enorme dimensão, é que existe capital disponível para colocar em empresas numa fase embrionária sem um euro de vendas, onde o grau de risco é tão grande que a perda do capital investido é logo assumido como o cenário base. Esta é a filosofia dos fundos de capital de risco e do chamado angel investing. Eles sabem que a maioria dos cheques que entregam a empreendedores consiste numa viagem de ida sem retorno. Mas quando a coisa corre bem, o cheque volta, e volta bem mais docinho. Estamos a falar de muita fruta mesmo.
O investimento de é provavelmente o melhor exemplo deste tipo de fenómeno. Um cheque de 500 mil euros resultou em mais de mil milhões de dólares passados 10 anos. Mesmo tendo assumindo mais risco e tendo derretido 100 cheques do mesmo montante em outras 100 empresas, falamos de uma perda de 50 milhões, ou seja o lucro total teria diminuído de mil milhões para 950 milhões. Esta é a magia dos riscos assimétricos positivos.
Sempre que estivermos na presença de qualquer risco, seja uma mudança de trabalho, um investimento financeiro ou qualquer outra decisão na vida, é essencial primeiramente avaliarmos o downside e o upside. Se o primeiro for superior ao segundo, calma aí e para o baile. Se o primeiro for inferior ao segundo, temos carta branca.
Convém também referir que acontece com frequência haver a possibilidade de minimizarmos o downside associado ao risco que estamos a ponderar assumir. A título de exemplo, antes de nos demitirmos do nosso trabalho estável para nos dedicarmos a um side hustle que entretanto decidimos começar, convém ter algumas vendas antes de darmos esse salto a pés juntos. O ideal seria mesmo o cenário onde já conseguíssemos auferir o rendimento do nosso trabalho nesse mesmo negócio próprio. Quanto maior for o nível de vendas, maior será a solidez da nossa ideia, maior será a probabilidade de sucesso, e menor será a probabilidade de insucesso, também conhecido por risco ou downside.
E são tantos os riscos que se formos a ver não têm qualquer downside real para além do downside fictício que criamos na nossa cabeça. Pedir um aumento salarial, meter conversa com a nossa crush, ou solicitar uma oportunidade de trabalho na área em que realmente desfrutamos, são tudo exemplos de situações onde no pior dos casos, tudo fica exatamente na mesma. Não há qualquer downside. Assimetria na sua forma mais pura! Para os nerds de finanças, aquilo que queremos são riscos que funcionem como uma espécie de call options sem maturidade. Perdas limitadas. Ganhos ilimitados. Riscos assimétricos é que o devemos procurar sempre no que diz respeito à nossa vida.
“The goal in investing is asymmetry: to expose yourself to return in a way that doesn’t expose you commensurately to risk, and to participate in gains when the market rises to a greater extent than you participate in losses when it falls. But that doesn’t mean the avoidance of all losses is a reasonable objective. Take another look at the goal of asymmetry set out above: it talks about achieving a preponderance of gain over loss, not avoiding all chance of loss.” - Howard Marks
Garantir que não nos expomos a riscos terminais
Há aqui um ingrediente que falta adicionar a esta receita para que possamos lidar da melhor forma com a incerteza e vencê-la. Garantir que estamos cá amanhã para beneficiar da assimetria que mencionei anteriormente, caso as coisas corram mal hoje. Pensemos no caso que mencionei anteriormente do dono da cadeia de pizzarias. Só à 6ª tentativa é que foi bem-sucedido. Se esta pessoa não tivesse garantido a sua robustez depois das primeiras 5 iniciativas mal consumadas, não teria tido oportunidade de ser bem-sucedido com o lançamento da 6ª empresa. Resumidamente, é essencial garantir que o nosso downside não inclui um cenário onde praticamente "morremos", tirando-nos a oportunidade de assumir mais riscos e tirar proveitos no futuro.
Voltemos ao investimento de Peter Thiel no Facebook. Imaginem que aqueles 500 mil dólares representavam todo o dinheiro disponível no fundo, e que mesmo antes de conhecer Zuckenberg, tinham decidido alocar esses 500k noutra empresa que acabou por se tornar um total fiasco. Resultado? O fundo fechou, perdeu todo o dinheiro e desta forma não conseguiu tirar partido daquela que foi uma das maiores oportunidades de investimento da história da humanidade.
É precisamente por esta razão que os jogadores de poker não gastam a totalidade do seu bankroll num torneio. É por esta razão que existem apostas máximas nos casinos. Não pode chegar lá alguém e apostar 100 milhões no preto, visto que esse cenário colocaria o casino em risco de simplesmente entrar em bancarrota, não podendo tirar partido depois da próxima aposta perdedora que iria reverter a favor da casa. É por esta razão, que mesmo que tenhamos a maior das convicção num cenário cujo desfecho é incerto, convém pelo menos termos qualquer coisa que nos permita recomeçar amanhã. Tenho a absoluta certeza que o Michael Saylor terá umas barras de ouro escondidas em casa e uns fundos indexados no valor de pelo menos uns sete dígitos, caso por alguma razão digna de magia negra, o Bitcoin vá a zero nos próximos tempos. Independentemente de podermos ganhar ziliões em qualquer investimento, convém sempre garantir que caso as coisas corram mal, consigamos sobreviver para que voltemos à nossa vida sem ficarmos com a casa penhorada e a dormir na rua, voltando desta forma a poder expor-nos a riscos assimétricos a à máquina de criação de riqueza.
“Superficially, I think it looks like entrepreneurs have a high tolerance for risk. But one of the most important phrases in my life is ‘protect the downside.” – Richard Branson
Para os nerds de finanças e os matemáticos, é possível otimizar a quantidade de dinheiro a investir numa determinada oportunidade, garantindo a nossa sobrevivência financeira, através da fórmula de Kelly.
Preço e risco estão sempre interligados
Entretanto voltamos com a última parte!
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